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Como plantar soja: agrônomo responde dúvidas sobre fertilidade do solo e os grãos

21/10/2022

Fertilidade do solo é a base para que a produtividade apresente números positivos Foto: Divulgação

O site do Sindical (cliente ProImprensa) convidou o engenheiro agrônomo Júlio César Assad de Mello para falar sobre o plantio de soja, a partir das ações necessárias para que a fertilidade do solo seja a mais ampliada possível.

O tema ganha força nos debates, já que a área plantada com soja em São Paulo deve chegar a 1,250 milhão de hectares na safra 2022/23. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o estado deva gerar 4,620 milhões de toneladas do grão na temporada.

E há uma expectativa bastante otimista das autoridades. O secretário de Agricultura do Estado, Francisco Matturro, avalia que a soja originária de terras paulistas ganhará cada vez mais espaço nos resultados finais do país.

Em entrevista ao Canal Rural, Maturro disse que perto de 5 milhões de hectares de áreas de pastagens estão cedendo lugar à agricultura, incluindo a soja. Em até 3 anos, segundo ele, a produção do grão deve chegar a 10 milhões de toneladas.

Para o agrônomo Júlio César Assad de Mello, a fertilidade do solo é a base para que a produtividade apresente números positivos. Leia a análise do agrônomo.

Sindical – Quais os cuidados que o produtor rural deve ter ao iniciar o plantio de soja? Ou para manter uma boa produtividade nas áreas já plantadas?

Para a instalação ou manutenção de qualquer cultura, sobretudo a cultura da soja, o produtor rural deve conhecer a fertilidade do solo onde a cultura será ou está instalada. Para tanto, utiliza-se a análise química do solo, feita após uma cuidadosa coleta de amostras por toda a área a ser plantada, normalmente dividida em glebas; e com o consequente envio a um laboratório de análises idôneo. Com base no resultado das análises, o produtor ou seu agrônomo de confiança serão capazes de conhecer o estado nutricional do solo, seu pH, níveis de elementos tóxicos, como o alumínio, e calcular o que precisa ser corrigido e adicionado.

O passo seguinte é escolha da variedade mais adequada ao tipo de solo, condições climáticas da região, época de plantio e ciclo da cultura; bem como de uma semente com boa viabilidade e capacidade de germinação. O estande populacional correto é fundamental para uma boa colheita.

Com o solo corrigido, a escolha da variedade que mais se adapte as condições de plantio de cada produtor, da semente viável e vigorosa, devidamente inoculada, uma adubação adequada e um eficiente plantio, está dado o início para o alcance de uma boa produtividade.

Os passos seguintes envolvem o acompanhamento e controle da ocorrência de possíveis pragas e doenças, bem como a eventual correção de alguma deficiência nutricional, via foliar.

Sindical – E no manejo de solo, onde o agricultor deve ficar atento?

O manejo do solo é essencial, sobretudo porque os solos brasileiros são, em sua maioria, predominantemente ácidos. Nos solos ácidos, teremos duas situações agravantes para as plantas e consequentemente para a produtividade: menor desenvolvimento do sistema radicular devido a presença de alumínio tóxico e, via de regra, baixos níveis de cálcio; bem como menor disponibilidade de nutrientes de forma geral, que ficam menos disponíveis às plantas em condições de acidez.

A combinação pouca raiz e menos nutrientes disponíveis é explosiva para o alcance da produtividade, tendo em vista que plantas mal nutridas serão obrigatoriamente pouco produtivas.

Nesse contexto de acidez de solo, detectada através da sua análise, que falamos anteriormente, a calagem torna-se uma prática essencial e fundamental para a busca da produtividade.

De uma tacada só a aplicação do calcário agrícola eleva o pH do solo combatendo a acidez; neutraliza o alumínio tóxico, veneno para o desenvolvimento das raízes; fornece cálcio que atua como um ímã no desenvolvimento radicular estimulando seu crescimento e ainda fornece magnésio, outro macronutriente essencial para o metabolismo das plantas, átomo central da molécula de clorofila, responsável pela fotossíntese e pelo consequente armazenamento de carboidratos nas raízes, colmos, folhas, sementes, etc, ou seja, essencial para a produtividade das culturas.

Sindical – Quais as principais culturas que avançam nas terras paulistas? Em que contexto ocorre a substituição de culturas?

Temos visto no estado de São Paulo uma grande variedade de culturas em alternativa ao tradicional binômio citros/cana-de-açúcar.

A produção dos citros já foi predominante no nosso estado e cedeu lugar em larga escala para a cultura da cana-de-açúcar.

Vale lembrar que, segundo dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola), temos mais de 6 milhões de hectares hoje ocupados pela cultura da cana-de-açúcar em SP.

Ainda segundo o IEA, o Estado de São Paulo, que lidera a produção no país, respondeu por 54,1% da quantidade de cana produzida na safra 2020/21, e foi responsável pela produção de 48,4% de etanol (14,3 bilhões de litros) e 63,2% do açúcar (26,0 milhões de toneladas).

Nesse contexto, tanto as culturas da soja, quanto do amendoim, têm ocupado as terras de cana-de-açúcar que serão destinadas a reforma do canavial. Com variedades mais precoces, adaptadas para essa finalidade, essas culturas acabam proporcionando benefícios técnicos para o solo e econômicos para o produtor rural, sem ocupar espaços destinados a outras culturas. E nesse aspecto, ainda há muita área disponível a ser ocupada por essas culturas nesse período pré-reforma da cana.

Sindical – Podemos afirmar que o grão está substituindo pastagens, citros, entre outros?

Via de regra, sim. Pode-se afirmar que regiões de pastos degradados têm cedido espaço para o plantio de culturas anuais. Com relação aos citros, que já perderam áreas significativas para cana, também é possível encontrar produtores que migraram para o plantio de grãos.

Porém, essa dança das cadeiras entre as culturas é muito dinâmica e áreas ocupadas por grãos hoje podem voltar a ser ocupadas por plantações de citros ou até mesmo cana, bem como áreas de cana podem voltar a ser ocupadas de forma mais definitiva pelo plantio de grãos.

Todavia, o bom desempenho financeiro de algumas culturas, sobretudo da soja, tem estimulado o plantio de culturas de ciclo anual, como soja, milho entre outras.

Sindical – Nesse cenário de grãos em São Paulo, quando falamos de clima e chuvas, quais os olhares dos produtores devem ser diferentes?

Os olhares são os mesmos para todas as culturas. Todas elas precisam de água (umidade), nutrientes (adubação), solos corrigidos, luz solar e cuidados fitossanitários e de manejo para se alcançar a máxima produtividade.

A questão das chuvas é limitante para praticamente todas as culturas. Poucos produtores conseguem irrigar suas áreas, mas o custo do sistema de irrigação e a questão da disponibilidade de água para irrigação ainda é muito limitante em nosso país.

Para qualquer cultura, seja ela de ciclo perene ou de ciclo anual, o produtor rural tem que ter em mente sempre começar a fazer um trabalho de base, corrigindo a acidez e deficiências de seu solo, usando o calcário em doses adequadas, insumo que, em termos de custo de produção, acaba tendo um impacto muito pequeno quando comparado com outros insumos e traz benefícios incalculáveis para o desenvolvimento das raízes e consequentemente das plantas. Raízes bem desenvolvidas se aprofundam no solo e buscam águas em camadas mais profundas, sentindo menos os efeitos de um período mais prolongado de estiagem.

Plantas com mais raízes são mais bem nutridas e produtivas.

Esse trabalho de base com a correção do solo não pode ser esquecido ou minimizado pelo agricultor. Sem ele, todas as etapas seguintes do sistema produtivo ficarão comprometidas.

Investir na calagem, na base do sistema produtivo, aliada as demais boas práticas já mencionadas, torna-se a forma mais eficiente de se alcançar a produtividade para todas as culturas.

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